As pesquisas mais atuais estão descobrindo que a maneira como os estudantes enxergam suas habilidades é ainda mais importante do que se pensava. As mensagens que passamos mudam radicalmente o desempenho deles, por isso é necessário o entendimento pelas crianças que os adultos que fazem parte da sua vida acreditam no potencial delas.
Assim como o que é comunicado em sala de aula, os estudos sobre o cérebro mostram que também o que os pais dizem sobre a matemática e a maneira como interagem com a disciplina influencia o aprendizado dos estudantes.
Uma importante pesquisa constatou que quando mães disseram às filhas que não tinham muita aptidão para a matemática em sua época de escola, o desempenho delas caiu quase que imediatamente (ECCLES; JACOBS, 1986). Em um novo estudo, a equipe de neurocientistas formada por Erin Maloney e alguns colegas descobriu que a ansiedade dos pais em relação à matemática fez com que os filhos aprendessem menos ao longo dos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Esse efeito, contudo, só incidiu sobre as crianças que recebiam ajuda no dever de casa (MALONEY et al., 2015). No caso daquelas que faziam a lição sozinhas, o sentimento dos pais não prejudicou o aprendizado dos filhos.
Diferentemente do nível de ansiedade em relação à matemática, o nível de conhecimento dos pais sobre a matéria não demonstrou exercer nenhum impacto nos alunos.
Mais uma vez, ambos os estudos indicam a importância do que é comunicado aos alunos. Não foi o conhecimento matemático dos pais que atrapalhou a tarefa de colaborar com o dever de casa das crianças, mas a ansiedade. Não sabemos exatamente o que eles dizem aos filhos, mas é provável que passem mensagens danosas do tipo: “Matemática é difícil” ou “Nunca fui bom em matemática”.
É de suma importância que os pais sejam positivos ao interagir com os filhos no estudo da disciplina. Eles podem dizer que a disciplina é empolgante e aberta; com esforço, todos podem aprender; para ter um bom desempenho não é preciso ser brilhante ou que a matemática está em toda parte no mundo.
Para obter mais orientações, visite a página Recomendações para os pais.
O mesmo acontece com os professores. Muitos educadores do Ensino Fundamental sofrem de ansiedade matemática, geralmente porque eles mesmos receberam mensagens fixas e estereotipadas sobre a disciplina e o seu potencial. Quando, durante minhas aulas, ensinei aos professores/pais que a matemática é uma matéria multidimensional que todos podem aprender, muitos educadores disseram que a experiência mudou suas vidas e passaram a adotar uma postura diferente a respeito.
Cerca de 85% dos docentes norte-americanos são do sexo feminino, e Beilock, Gunderson, Ramirez, & Levine (2009) descobriram algo muito interessante. Eles perceberam que os níveis de ansiedade das professoras de Ensino Fundamental prognosticavam o desempenho das meninas em suas turmas. Entretanto, isso não se estendia aos meninos (Beilock et al., 2009). Isso porque só as meninas se identificavam com as professoras a ponto de tê-las como exemplo próximo. Ao mesmo tempo, infelizmente, as educadoras transmitiam a ideia que matemática é mais difícil para mulheres ou que meninas simplesmente “não levam jeito”. Muitas professoras pensam que estão se solidarizando com as alunas ao tranquilizá-las em relação à matemática, dizendo que podem se sair bem no resto do currículo. A verdade é que essas mensagens são prejudiciais.
Professores e pais precisam substituir palavras de compaixão como “Não se preocupe, a matemática não é a sua praia”, por mensagens positivas como “Você é capaz de fazer isso. Acredito no seu potencial. Matemática é uma matéria linda e aberta e, para se sair bem nela, basta se empenhar bastante”.
Este artigo contém trechos do novo livro de Jo Boaler, Mentalidades matemáticas – desencadeando o potencial dos alunos com matemática criativa, mensagens inspiradoras e ensino inovador.
Referências bibliográficas
BEILOCK, L. S.; GUNDERSON, E. A.; RAMIREZ, G.; LEVINE, S. C. Female teachers’ math anxiety affects girls’ math achievement. Proceedings of the National Academy of Sciences, n. 107, v. 5, p. 1860-1863, 2009.
BOALER, J. Mathematical Mindsets: Unleashing Students’ Potential Through Creative Math, Inspiring Messages and Innovative Teaching. San Francisco, CA: Jossey-Bass, 2015. [Versão brasileira: Mentalidades matemáticas: estimulando o potencial dos estudantes por meio da matemática criativa, das mensagens inspiradoras e do ensino inovador. Porto Alegre: Penso – Artmed, 2017. Trad. Daniel Bueno.]
ECCLES, J.; JACOBS, J. Social forces shape math attitudes and performance. Signs, n. 11, v. 2, p. 367-380, 1986.
MALONEY et al., 2015.Intergenerational effects of parents’ math anxiety on children’s math achievement and anxiety. Psychological Science, n. 26, v. 9, p. 1480-1488, 2015.