A ideia de que os alunos atingem níveis mais altos quando os professores acreditam em seu potencial pode parecer óbvia, mas poucas pessoas conseguiriam imaginar o quanto uma simples mensagem dos professores pode mudar toda a trajetória e o desempenho dos alunos.
Um estudo feito muitos anos atrás, e que provavelmente não seria permitido hoje, mostrou algo extraordinário em relação às convicções do professor. Os pesquisadores disseram aos professores que alguns grupos de alunos – em seis séries diferentes – haviam sido testados e que eles eram capazes de obter um crescimento intelectual maior do que os outros alunos. Na realidade, esses alunos tinham os mesmos níveis de aproveitamento que os outros e foram escolhidos aleatoriamente. Ao final de um ano, as notas desses alunos nos testes de QI correspondiam às falsas convicções de seus mestres. Quando os professores pensavam que esses alunos tinham maior capacidade intelectual, eles obtiveram resultados significativamente mais altos nos testes de QI em relação àqueles cujos professores não receberam nenhum tipo de informação (ROSENTHAL; JACOBS, 1968). Esse estudo é uma ilustração poderosa de que as expectativas e convicções dos professores sobre os alunos são importantes.
Em um estudo muito mais recente, os pesquisadores ilustraram o quanto uma única mensagem pode ser poderosa. Centenas de estudantes participaram de um estudo experimental nas aulas de inglês do ensino médio. Eles escreveram redações e receberam feedback crítico e diagnóstico de seus professores, mas metade deles recebeu uma frase extra na parte inferior do feedback. Um ano depois, aqueles que receberam a frase extra obtiveram notas mais altas, embora os professores não soubessem quem recebeu a frase e não houvesse outras diferenças entre os grupos. Pode parecer incrível que uma frase seja capaz de mudar as trajetórias de aprendizado dos alunos a ponto de melhorar seu desempenho um ano depois, sem nenhuma outra mudança, mas esta era a frase extra:
“Estou te dando este feedback porque acredito no teu potencial”.
Um ano depois, os alunos que receberam esta mensagem tiveram um desempenho melhor nas provas escolares. Esse efeito foi significativo sobre os estudantes de cor, que em geral se sentem menos valorizados por seus professores (COHEN; GARCIA, 2014). Eu muitas vezes falo sobre essa descoberta com os professores, e eles sempre entendem completamente seu significado. Não falo sobre o resultado na esperança de que eles adicionem essa mesma frase ao trabalho de todos os seus alunos. Isso os levaria a pensar que a mensagem não era genuína, o que seria contraproducente. Falo para mostrar o poder das palavras e impressões dos professores sobre os alunos, e para incentivá-los a reforçar mensagens que transmitam convicções positivas em todos os momentos. Além disso, apenas acreditar nos alunos não é suficiente (SHOUSE, 1996). Os professores devem associá-las a um ambiente acadêmico que valorize a matemática aberta, de crescimento, os erros, e avaliações de alta qualidade.
Os professores podem transmitir expectativas positivas aos alunos usando palavras encorajadoras, e é fácil fazer isso com alunos que parecem motivados, que aprendem com facilidade ou que são rápidos. Mas é ainda mais importante comunicar convicções e expectativas positivas a alunos que são lentos, parecem desmotivados ou têm dificuldades. Também é importante perceber que a velocidade com que parecem aprender conceitos não é indicativa de seu potencial matemático (SUPEKAR et al, 2013). Por mais difícil que seja, é importante não ter nenhuma preconcepção sobre nossos alunos.
Sempre devemos estar abertos a qualquer aluno que esteja se esforçando muito e chegando a níveis mais elevados.
Alguns alunos dão a impressão de que a matemática é uma luta constante e eles podem fazer muitas perguntas ou ficar dizendo que estão emperrados, mas estão apenas escondendo seu potencial matemático e provavelmente sofrendo de uma mentalidade fixa; muitas vezes, eles têm medo de se arriscar ou de fazer algo errado. Alguns alunos receberam mensagens negativas e tiveram más experiências com a matemática desde muito novos, ou não têm recebido as mesmas oportunidades de crescimento cerebral e aprendizado que outros alunos e, portanto, estão em níveis mais baixos do que eles. Isso não significa que não possam ter um excelente desempenho com um bom ensino de matemática, mensagens positivas e, talvez o mais importante, altas expectativas de seus professores e pais.
Você pode ser a pessoa que muda o jogo para os alunos e abre seu caminho de aprendizado. Muitas vezes, basta apenas uma pessoa – alguém que os alunos nunca esquecerão.
Este artigo contém trechos do novo livro de Jo Boaler, Mentalidades Matemáticas: Desencadeando o potencial dos alunos com Matemática Criativa, Mensagens Inspiradoras e Ensino Inovador
Referências
Boaler, J. Mentalidades Matemáticas: Desencadeando o potencial dos alunos com Matemática Criativa, Mensagens Inspiradoras e Ensino Inovador. Porto Alegre: Penso Editora, 2016.
COHEN, GL; GARCIA, J. Educational Theory, Practice, and Policy and the Wisdom of Social Psychology. Policy Insights from the Behavioral and Brain Sciences, v. 1, n. 1, p. 13-20, 2014.
ROSENTHAL, R. & JACOBSON, L. Pygmalion in the classroom. The Urban Review, v. 3, n. 1, p. 16-20, 1968.
SHOUSE, R. C. Academic press and sense of community: Conflict, congruence, and implications for student achievement. Social Psychology of Education, v. 1, n. 1, p. 47-68, 1996.
SUPEKAR, K .; SWIGART, A., TENISON, C., JOLLES, D., ROSENBERG-LEE, M.; FUCHS, L.; MENON, V.. Neural Predictors of Individual Differences in Response to Math Tutoring in Primary-Grade School Children. PNAS, v. 110, n. 20, p. 8230-8235, 2013.