Derrubando Mitos sobre a Matemática

Edição Especial de Ciências da Educação com a Editora Convidada e Professora Jo Boaler

 

O aprendizado de muitos estudantes é prejudicado por ideias equivocadas sobre a matemática ou sua aprendizagem. Esta Edição Especial traz vários artigos que confrontam alguns dos diferentes “mitos” que restringem as oportunidades de aprendizado, propondo maneiras de eliminá-los da equação de aprendizado e libertar os estudantes. Alguns dos mitos abordados é a ideia de que apenas alguns alunos podem aprender matemática de alto nível – vários artigos confrontam esse conceito inadequado e oferecem evidências de mudança após sua eliminação. Outros artigos confrontam a ideia de que, para ser bom em matemática, você precisa calcular rápido, ou que a matemática é um conjunto de procedimentos desconectados que precisam ser memorizados, ou que “conversas paralelas” entre os alunos obstruem o aprendizado. Outros analisam a verdadeira natureza da matemática, e a diferença entre a matemática como disciplina e a matemática ensinada nas escolas. A Edição Especial apresenta artigos de pesquisa, críticas de estudos de pesquisa, relatórios técnicos, e artigos conceituais. Seu objetivo é conceitualizar e ressaltar os mitos que atrapalham a aprendizagem matemática, bem como destacar intervenções e pesquisas com professores e alunos que são libertadores para os estudantes e seu aprendizado.

Jo Boaler

Editora Convidada

Como Alcançar a Mudança do Professor Evasivo Confrontando os Mitos do Aprendizado: Uma Abordagem Combinada

Por Robin Keturah Anderson, Jo Boaler e Jack A. Dieckmann

Resumo: A ideia de que o bom desempenho na matemática só está disponível para os nascidos com o “dom da matemática” tem sido refutada nos últimos anos pela neurociência, mostrando que as rotas da matemática se desenvolvem no cérebro por meio do aprendizado e da prática. Este artigo apresenta um modelo de aprendizado profissional misto de reuniões on-line e presenciais, durante as quais 40 professores de 8 distritos escolares dos EUA aprenderam sobre a nova neurociência, confrontando o mito do “dom para a matemática”, bem como métodos eficazes de ensino da matéria. Nós nos referimos à combinação como uma Abordagem da Mentalidade Matemática. Usando métodos mistos, conduzimos um estudo de um ano para investigar o aprendizado de professores e alunos numa rede de Mentalidade Matemática. Coletamos dados sobre as crenças de professores e alunos, a prática de ensino dos professores e os ganhos de aprendizagem dos alunos nos testes de desempenho estaduais. Os resultados de nossas análises quantitativas encontraram melhoras positivas e estatisticamente significativas nas crenças dos alunos, na prática de ensino do professor e nas notas dos testes de matemática dos alunos. A abordagem da mentalidade melhorou particularmente o desempenho de meninas, imigrantes e estudantes de baixa renda. Com base em nossa análise qualitativa, propomos que o sucesso da intervenção está apoiada em dois fatores centrais: (1) As diferentes formas de Capacitação Profissional serviram para erradicar os mitos da aprendizagem que impuseram barreiras a professores e alunos; e que (2) Os professores tinham espaço para o trabalho identitário enquanto aprendizes da matemática.

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O Mito de Que Apenas Pessoas Brilhantes São Boas em Matemática e Suas Implicações Sobre a Diversidade

Por Eleanor K. Chestnut, Ryan F. Lei, Sarah-Jane Leslie e Andrei Cimpian

Resumo:  Um equívoco comum relacionado à matemática é que ela requer talento intelectual bruto ou “brilhantismo”. Supõe-se que apenas os alunos com esse tipo de brilhantismo sejam capazes de obter sucesso em assuntos relacionados à matemática. Esse mito prejudicial gera consequências profundas no desempenho de meninas e crianças de origens étnicas minoritárias nessas matérias. Como as mulheres e as minorias sofrem com estereótipos de falta de brilhantismo, o mito de que o bom desempenho na matemática exige esse traço impõe uma barreira que os estudantes desses grupos precisam superar. Na primeira parte deste artigo, detalhamos a prevalência desse mito e exploramos sua relação com os abismos de gênero e raça na matemática, entre outros. Na segunda parte, destacamos algumas fontes em potencial desse mito nas experiências cotidianas das crianças e oferecemos algumas estratégias para desmascará-lo.

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Mitos da Matemática no Ensino Infantil

por Douglas H. Clements e Julie Sarama

Resumo:  São inúmeros os mitos relacionados à educação infantil. Muitos deles têm um fundo de verdade, mas não são verdadeiros como um todo – na grande maioria das vezes, não passam de mitos. No entanto, eles persistem, e muitos prejudicam as crianças. Neste artigo, abordamos os mitos onipresentes na matemática que podem afetar negativamente muitos estudantes da educação infantil. Concluímos que evitar os mitos e escutar as descobertas de pesquisas e a sabedoria que vem da prática especializada serão de grande valia tanto para as professoras quanto para as crianças.

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Estudantes de Álgebra do Ensino Médio Derrubam o Mito da Inteligência Matemática: Contra-histórias da Narrativa Dominante de “Aprender Rápido e Acertar de Primeira”

Por Teresa K. Dunleavy

Resumo:  Este artigo continua a confrontar o mito duradouro de que os indivíduos que resolvem problemas matemáticos de forma rápida, consistente e precisa são os maiores exemplos de inteligência matemática. Para tanto, apresento um conjunto de relatos de três alunos de Álgebra 1 do 9º ano, que contam uma história diferente, descrevendo experiências transformadoras em suas percepções da inteligência matemática. A análise das entrevistas revelou quatro temas relacionados a suas percepções de inteligência matemática, incluindo: (1) permitir-se o tempo e o espaço de forma consistente e livre de culpa para valorizar estratégias variadas de solução; (2) acreditar na justificação e explicação matemática como o objetivo para demonstrar domínio do conteúdo matemático; (3) valorizar ideias matematicamente válidas de todos os alunos da turma e (4) valorizar a resolução colaborativa de problemas como forma de ajudar os membros do grupo, distribuir conhecimentos matemáticos e orientar os alunos a aprender uns com os outros. Descobri que suas interpretações de inteligência matemática são contrárias aos mitos ainda dominantes sobre velocidade e precisão. Embora os quatro temas que surgiram tenham sido previamente estudados com foco nas práticas do professor, esta pesquisa fornece outras evidências empíricas e necessárias das vozes dos alunos, descrevendo como a inteligência matemática pode e deve ser.

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Neutralizando Conceitos Errôneos e Destrutivos dos Alunos sobre Matemática

 Por Uffe Thomas Jankvist e Mogens Niss

Resumo:  Neste artigo, perguntamos o que é necessário para que os esforços sejam razoavelmente bem-sucedidos na alteração de conceitos equivocados e crenças improdutivas dos alunos, bem como dos mitos subsequentes sobre a matemática enquanto disciplina e matéria escolar e sobre si mesmos em relação à matemática, de modo a preparar o terreno para uma aprendizagem satisfatória. Tentamos responder a essa pergunta por meio da análise de três casos de estudantes do ensino médio, todos com dificuldades em matemática devido aos mitos provenientes de crenças equivocadas, esquemas de provas errôneos ou interpretações equivocadas do contrato didático, os três construtos teóricos que empregamos no estudo. Descrevemos como professores de formação específica, os chamados “conselheiros matemáticos”, que participaram de um programa de capacitação profissional conduzido pelos autores, conseguiram, primeiramente, identificar esses alunos, depois diagnosticar com mais precisão a natureza de suas dificuldades e, por fim, projetar intervenções direcionadas a fim de ajudá-los a superar (partes de) suas dificuldades e então derrubar alguns dos mitos que os influenciavam. Além disso, oferecemos uma análise dos elementos responsáveis pelo sucesso dessas intervenções. Mais precisamente, identificamos cinco desses elementos. Por fim, abordamos o papel e a intrincada conexão das três construções teóricas mencionadas acima.

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“Indefensável, Ilógico e Sem Embasamento”; O Combate a Mitologias do Déficit sobre o Potencial de Alunos com Dificuldades de Aprendizagem em Matemática

Por Rachel Lambert

Resumo: Este artigo descreve dois mitos amplamente disseminados sobre o potencial dos alunos com Dificuldades de Aprendizagem para aprender matemática: (1) os alunos com Dificuldades de Aprendizagem não conseguem se beneficiar do ensino por investigação na matemática, apenas do ensino explícito; e (2) os alunos com Dificuldades de Aprendizagem não podem construir suas próprias estratégias matemáticas e não se beneficiam do engajamento com várias estratégias. Neste artigo, descreverei como esses mitos se desenvolveram e identificarei pesquisas que os combatem. Argumento que eles são consequências não intencionais de construções sobre o déficit na pesquisa educacional em relação aos estudantes com Dificuldades de Aprendizagem. Lançando mão da neurodiversidade para enxergar o déficit como diversidade e não como deficiência, defendo que os alunos com Dificuldades de Aprendizagem podem aprender matemática até os mais altos níveis, e que essas mitologias limitantes erguem barreiras ao seu desenvolvimento.

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Interrupções produtivas: Repensando o Papel das Conversas Paralelas no Aprendizado Matemático Colaborativo

Por Jennifer M. Langer-Osuna

Resumo:  Este artigo confronta o mito de que todas as conversas paralelas nas aulas de matemática são prejudiciais ao aprendizado. Para tanto, ele explora primeiro os vínculos entre participação, aprendizado e identidade na pesquisa em educação matemática, que apontam para a importância dos recursos posicionais. Os recursos posicionais estão relacionados aos processos de identidade e desempenham funções centrais que regulam o aprendizado e a resolução de problemas matemáticos em conjunto. Depois, o artigo aborda o comportamento de dispersão da atividade como um recurso posicional importante em ambientes colaborativos de aprendizagem de matemática. Com essas ideias em mente, ele então termina com novas perguntas de pesquisa.

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Nadar Contra a Maré: Percepções de uma Estatística com Discalculia

Por Katherine E. Lewis e Dylan M. Lynn

Resumo:  Os estudantes com discalculia costumam ser considerados portadores de déficits por pesquisadores e educadores. A linguagem do déficit está presente em muitos estudos sobre a discalculia, bem como em avaliações e documentações dos alunos nas escolas. Neste artigo, nós oferecemos uma alternativa à narrativa dominante. Entendemos os distúrbios, e a discalculia especificamente, como resultado de diferenças cognitivas – não déficits – que levam a problemas de acesso. Fornecemos o estudo de caso de Dylan (segunda autora), portadora de discalculia que decidiu se formar em estatística na Universidade de Berkeley, Califórnia, e se tornar estatística. Embora tenha enfrentado problemas significativos de acesso – tanto no uso de ferramentas comumente aplicadas na matemática, quanto em achar seu caminho nas estruturas da universidade –, ela desenvolveu sistemas de compensação. Dylan colaborou com esse empreendimento de pesquisa para mostrar a pesquisadores, professores, pais e alunos suas experiências com a discalculia e como alcançou um bom desempenho na matemática de alto nível. Embasados em trabalhos empíricos anteriores, coletamos gravações em vídeo dos esforços deliberados de Dylan para mostrar ideias e estratégias para outro aluno com discalculia. Neste trabalho, Dylan confronta mitos dominantes e problemáticos sobre habilidade e matemática.

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Rejeitando o Platonismo: Recuperando a Humanidade no Ensino de Matemática

Por Frederick A. Peck

Resumo:  Neste artigo, debruço-me sobre um mito generalizado no ensino de matemática, o do formalismo de Platão. Evidencio que esse mito é ahistórico, acultural e prejudicial, tanto para a matemática quanto para a sociedade. Argumento que, como professores, devemos rejeitar o mito do formalismo de Platão e, em vez disso, entender a matemática como atividade humana. Essa filosofia humaniza a matemática e implica que a educação matemática deve ser ativa, cultural, histórica, social e crítica –, ajudando os alunos a aprender a matemática formal e também descobrir que ela forma suas vidas, que essa formação é resultado do trabalho e das escolhas humanas, e que eles têm o poder de moldar essas escolhas.

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M Não Só Pertence à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática: Como os Mitos sobre os Objetivos do Ensino de Matemática Limitaram os Currículos de Matemática nos Estados Unidos

Por Kate Raymond

Resumo:  Quando a escola pública foi introduzida pela primeira vez nos Estados Unidos, seus primeiros defensores destacavam a matemática como fundamental para a formação da cidadania informada na democracia. Meio século depois, esse propósito foi quase totalmente ofuscado pela pressão para que a matéria privilegie a economia e a tecnologia. A crença de que a preparação para carreiras tecnológicas é, e também foi no passado, o único objetivo da matemática escolar nos EUA tornou-se um mito amplamente aceito pelo público e pelos formuladores de políticas. À medida que esse mito se estabeleceu, os currículos de matemática foram reduzidos, incorporando apenas a matemática, e suas aplicações, que dão suporte a esse propósito específico. Tal estreitamento da matemática escolar não apenas afeta negativamente o desenvolvimento de cidadãos informados, mas limita a extensão em que ela pode ser estudada de maneira a envolver todos os alunos. O surgimento da matemática para a justiça social é, portanto, – em parte – uma tentativa de retomar os propósitos mais amplos da matemática escolar.

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Ensine a Matemática dos Matemáticos

Por Peter Taylor

Resumo:  O currículo de matemática do ensino médio tem um escopo limitado e caráter técnico; isso é bem diferente da natureza da própria disciplina em si. Desse modo, ela é de pouca inspiração para alunos e professores, e oferece aos estudantes uma preparação deficitária para os cursos de matemática universitários e, verdade seja dita, para a vida. Ao longo do século passado, e nesses últimos anos mais do que nunca, tem havido clamores por mudança, por um currículo que seja fiel à disciplina da matemática enquanto criação e estudo de padrões e estruturas. Embora haja respostas promissoras para isso no nível fundamental, quase não há nada no nível médio. Ironicamente, considera-se que, para preparar os alunos para o cálculo universitário, o currículo do ensino médio simplesmente precisa ser o que é. Este é o caso especial de um mito que precisa ser destruído.

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